3 de fev. de 2011

Adeus à enxaqueca

Se lidar diariamente com crianças e adolescentes pode causar dores de cabeça, imagine ser professor de um colégio municipal e sofrer de enxaquecas crônicas quase todos os dias. Durante 16 anos, essa foi a cruz carregada por Terezinha Ferreira Lemos Vasconcelos, 55 anos, que mora no município de Gravatá, no Agreste do estado. As crises duravam quatro ou cinco dias e a acometiam toda semana, mas, há 13 dias, essa realidade mudou. A paciente foi submetida a uma cirurgia experimental para solução do problema no Hospital dos Servidores de Pernambuco (HSE), no Recife. A chamada ´técnica de Guyron` tem eficácia em 87% dos casos e foi a primeira iniciativa do gênero que, oficialmente, se tem notícia no país.

Somente em remédios, para se livrar das dores, Terezinha chegava a gastar entre R$ 60 e R$ 120 todos os meses. Muitas foram as vezes, por exemplo, que ela teve que voltar para casa, por não ter condições de enfrentar uma sala de aula. ´Era horrível. Já tomei todos os tiposde remédios, mas nada adiantava. Quando fiquei sabendo da possibilidade de cirurgia, fiquei com esperança e, hoje, graças a Deus estou muito satisfeita`, afirmou.

Apenas casos como o da professora de Gravatá podem estar aptos à cirurgia: pacientes que não mais respondam aos tratamentos diversos, especialmente os recomendados por um neurologista. No caso de Terezinha, a enxaqueca era localizada na nuca, onde um nervo vinha sendo estimulado por um músculo. A técnica consiste justamente na retirada parcial deste músculo, na área medial ao nervo. Em casos onde a dor é na área lateral da face, o que é retirado é o próprio nervo, que, nesse caso é o chamado zigomático temporal.

De acordo com o cirurgião do HSE, Corintho Viana, esse é o primeiro caso do país comunicado a Guyron, que já operou dezenas de pacientes brasileiros nos últimos anos. Segundo ele, a vantagem da cirurgia, de média complexidade, é que não oferece grandes riscos ao paciente e o máximo que poderia acontecer é a pessoa acabar não apresentando melhoras significativas na intensidade ou na frequência das crises de enxaqueca. ´Quando o caso é frontal, o que é mais comum, dois músculos são parcialmente removidos. Na pior das hipóteses, a pessoa fica impossibilitada de ter rugas cima da sobrancelha`.

O procedimento foi criado por Bahman Guyron, chairman de cirurgia plástica da Universidade Case Western Reserve University, em Cleveland, EUA. Durante aplicações de botox, ele percebeu que, preenchida, a área do chamado 'corrugador de sobrancelha' resultava no alívio das dores de cabeça das pacientes, o que vem sendo estudado desde a década de 2000. De acordo com o estudo do norte-americano, 47% dos pacientes submetidos ao tratamento apresentaram cura e outros 40%, tiveram uma redução de mais da metade da intensidade e frequência das crises de enxaqueca.

Durante a cirurgia é realizada uma incisão no couro cabeludo, por onde o procedimento é realizado. No caso de Terezinha, foi realizado um corte de cinco centímetros na parte de trás do pescoço, mas para enxaquecas localizadas em outras regiões, o corte é feito acima da testa. Todo o procedimento dura em torno de uma hora e meia e, em alguns casos, pode ser realizado apenas com anestesia local. A cirurgia ainda não foi aprovada pelo Cremepe.


http://www.diariodepernambuco.com.br/2011/02/03/saude1_0.asp
Ed Wanderley