29 de jan. de 2011

Cientistas sequenciam DNA do orangotango

Susie é uma fêmea de cabelos ruivos e longos, vive em um grupo social de alta complexidade e já deu provas de que possui cultura própria. Até agora, ela era apenas um dos orangotangos - os únicos dos grandes símios que vivem a maior parte do tempo em cima de árvores - que habitam as florestas de Sumatra (ilha da Indonésia). Depois de um artigo publicado na revista especializada Nature, no entanto, Susie se tornou conhecida por ser o primeiro exemplar da espécie a ter o código genético sequenciado. Ao examinar os genes do animal, um consórcio internacional de cientistas descobriu que apenas 3% de diferença genética separam os orangotangos dos seres humanos.

Em termos evolutivos, esse animal é considerado o mais distante ´primo` do homem. Embora as duas espécies compartilhem um ancestral comum, o orangotango tem o DNA mais diversificado, de acordo com o novo estudo. O sequenciamento de Susie também revelou que o genoma do símio sofreu poucas variações ao longo do tempo, ao contrário do que ocorreu com os seres humanos e os chimpanzés.

Como resultado da lentidão evolutiva, acredita-se que, geneticamente, os atuais habitantes das florestas tropicais de Sumatra e de Borneo (ilha cujo território pertence à Indonésia, à Malásia e ao Brunei) se assemelhem bastante ao ancestral comum dos grandes símios. Em um determinado momento do tempo, ainda desconhecido, esse animal separou-se daquele que daria origem aos hominídeos - o último exemplar em comum seria o ´elo perdido`.

De acordo com um dos cientistas envolvidos no projeto, a professora da Universidade de Medicina Veterinária de Viena Carolin Kosiol, comparar o sequenciamento do orangotango ao genoma do homem e de outros mamíferos pode fornecer novas pistas sobre a evolução dos seres humanos. A veterinária examinou cerca de 14 mil genes humanos também encontrados nos orangotangos, nos chimpanzés, em macacos e em cachorros. Ela descobriu que genes envolvidos em dois processos - percepção visual e metabolismo dos glicolipídeos- sujeitaram-se, particularmente, à seleção natural na evolução dos primatas. De uma forma intrigante, defeitos no metabolismo dos glicolipídeos estão associados a um grande número de doenças degenerativas em humanos.

´Mudanças no metabolismo dos lipídeos podem ter desempenhado um grande papel na evolução neurológica dos primatas e devem estar associadas à diversidade de dietas e outras estratégias de sobrevivência`, acredita a cientista. ´Símios, especialmente os orangotangos, têm taxas de reprodução mais baixas e usam muito menos energia que outros mamíferos. Seria de grande valor científico sequenciar genomas de outros primatas para podermos fazer mais análises comparativas do tipo, o que nos ajudará a entender a evolução dos primatas e da nossa espécie`, afirma.

Diversidade

A partir do sequenciamento de Susie, os cientistas decodificaram o DNA de outros cinco orangotangos de Sumatra e cinco de Borneo. Eles fizeram isso para estimar a época em que hominídeos e grandes símios separaram-se - cerca de 400 mil anos atrás, confirmando o que já se acreditava. Segundo Carolin Kosiol, as análises mostraram que há uma enorme diversidade de genes nos orangotangos, o que torna os animais de Borneu e de Sumatra espécies diferentes. ´A descoberta surpreendente é que os animais de Sumatra têm uma variação genética muito maior do que seus primos próximos de Borneo, apesar de possuírem uma população bem menor`, diz a cientista.

http://www.diariodepernambuco.com.br/2011/01/28/ciencia1_0.asp
Paloma Oliveto