Em 2012, comemora-se o centenário de Luiz Gonzaga, o maior ídolo musical
da cultura nordestina. Não é pouca coisa não! Também conhecido como
Lua, o Rei do Baião está para os apreciadores do bom forró assim como
Tom Jobim está para a bossa nova. Por isso, este ano as festas juninas
vão ser diferentes, vão ter uma característica única. Tanto Caruaru, em
Pernambuco, quanto Campina Grande, na Paraíba, dedicam ao ídolo maior a
festa de São João de 2012.
O centenário de Luiz Gonzaga já foi tema do desfile da escola de samba
Unidos da Tijuca, campeã do Carnaval do Rio de Janeiro, e homenageado
pelo desfile do Galo da Madrugada, no Recife.
Luiz Gonzaga se tornou ídolo musical de abrangência nacional em uma
época onde os meios de comunicação que davam espaço para a música se
restringiam apenas ao rádio. Gravou seu primeiro LP de 78 rotações em
1941, com apenas quatro canções instrumentais. No tempo de Gonzaga, as
redes sociais eram formadas nas praças, nos circos, em feiras livres (os
supermercados não existiam) e nestes espaços, tocava de tudo.
O sociólogo José Farias dos Santos, autor de Luiz Gonzaga, a música como expressão do Nordeste,
conta, em sua dissertação de mestrado pela PUC de São Paulo, que o
músico era hábil em tocar na sanfona valsas, jazz, mazurcas europeias e
outros estilos comuns da época. Mas, foi tocando as músicas tradicionais
nordestinas que ganhou reconhecimento. Hoje, Lua é reverenciado pelo
xote, xaxado, toada, forró, além de ter ganhado o posto de Rei do Baião
no fim da década de 1940.
O professor de história da pós-graduação da Universidade Federal de
Pernambuco, Severino Vicente, avança na identificação da estratégia
artística de Luiz Gonzaga, nos anos 30 e 40. "Ele cantou um Nordeste
inventado para o nordestino que estava fora de casa, assim como ele",
analisa Vicente. O historiador diz ainda que Gonzagão tocava o que o
público, que frequentava as feiras do Rio de Janeiro e São Paulo, queria
ouvir. "A cidade de origem ganha um espaço diferenciado na memória de
quem está longe de casa", explica o professor.
O Rei do Baião foi também uma figura importante na divulgação da imagem
do Nordeste para o resto do país. O afilhado do artista, Dominguinhos,
reconhece este papel de Gonzaga. "Ele era um artista político que pediu
muito pelo Nordeste. Viveu toda uma época puxando a atenção para o lado
nordestino, vencendo os preconceitos", afirmou.
A chegada da televisão ao Brasil no início da década de 1950 revelou
para o país ritmos mais urbanos, como a bossa nova e o rock. O espaço de
Luiz Gonzaga ficou menor, em nível nacional. Nesse período, o músico
voltou à estrada com sua vida de viajante. Seu retorno à mídia aconteceu
pelas trilhas sonoras das novelas, como a de Saramandaia , de
Dias Gomes. Em 1980, Luiz Gonzaga retorna ao cenário nacional, resgatado
pelo seu filho, o também cantor e compositor Gonzaguinha - com quem
teve uma infância tumultuada.
Luiz Gonzaga Nascimento nasceu em 1912 em Exu, no Sertão do Araripe, em
Pernambuco. Foi o segundo de nove filhos e cresceu ouvindo o pai tocar
forró nas vilas da região. Desde os oito anos já se apresentava em
festas cantando e tocando sanfona, mas só começou de maneira
profissional na carreira artística em 1939, depois de se desligar do
Exército Brasileiro, onde serviu por 10 anos.
O sanfoneiro começou a se apresentar como músico no Rio de Janeiro com a
influência de amigos que conheceu na cidade, tocando chorinho, jazz,
blues e foxtrot, além de participar como calouro em programas de rádio.
A década de 1940 foi marcada por grandes sucessos na vida de Lua. Além
de tocar, começou também a cantar suas canções nas gravações de LP e
adotou o estilo nordestino de se vestir, com o conhecido chapéu de
couro, como forma de caracterizar suas apresentações. Luiz Gonzaga
morreu aos 76 anos, em 1989.